domingo, 5 de abril de 2015

Lollapalooza 2015: um grande headliner e não muito mais do que isso

Mentalize o barulho de uma sirene. É a patrulha indie. Antes que alguém me jogue isso na cara, reconheço. Sou mesmo da patrulha indie e não vejo nenhum problema. Afinal, é necessário proteger os espaços que foram conquistados com tanto esforço e que estão sendo ameaçados por todos os lados, desde que isso não signifique se fechar à diversidade. Sim, me refiro ao Lollapalooza Brasil, mas não insistirei na crítica às atrações pop, que já foi o tema do texto que escrevi sobre a edição do ano passado. A de 2015 só reforçou meus argumentos, o que torna desnecessário e cansativo que eu os repita agora. De qualquer maneira, estão presentes como pano de fundo.

O que quero enfatizar desta vez é quais são os predicados que levam um artista a merecer a condição de headliner de um festival do tamanho do Lollapolooza. A edição deste ano mostrou uma escolha acertadíssima e outra equivocada, pelo menos para minha concepção do que o festival deveria ser. Essas escolhas também realçaram o que faz um artista merecer ser um headliner e o que não faz.

A escolha acertada foi obviamente a do Jack White para encerrar o primeiro dia de festival. Ele foi e continua sendo um músico de vanguarda. A essa qualidade, alia a capacidade de mover as massas, o que é essencial para se tornar um headliner. Por melhor que seja um artista, a tarefa de encerrar um megaevento requer a capacidade de atrair um público grande e diverso.

Jack White é tudo isso e está no auge de uma carreira já pontuada por momentos notáveis. Como resultado, fez um show memorável, acompanhado de uma banda tão enérgica e afiada quanto ele. Estava tão confortável na condição de headliner que não evitou, como fazem tantos, seu maior hit, ainda da época de White Stripes, fechando a noite com ele.

O que a escolha de Jack White teve de acertada, a de Pharrell Williams teve de equivocada para encerrar o segundo dia. É claro que muita gente se divertiu com o show dele, o que não foi o meu caso, porque eu estava em outro palco para ver o Smashing Pumpkins. Mas a diversão ou não dos que viram o Pharrell não é o ponto aqui.

Tudo que escrevi sobre o Jack White falta ao Pharrell Williams. Por mais hits que ele venha acumulando, isso não é suficiente para credenciá-lo a ser um headliner. Para resumir, falta bagagem, o que sobra ao Smashing Pumpkins. Ah, então, bastava fazer a troca de palco entre os dois?

Não! Por uma questão simples: quem tocou no Lollapalooza 2015 não foi o Smashing Pumpkins, foi o Billy Corgan. O Smashing Pumpkins, infelizmente, não existe mais. O momento em que o artista está na carreira conta tanto quanto o que fez ao longo da carreira. Para resumir, a troca não daria ao segundo dia o headliner que não teve. E o que resolveria, então?

Não sei e não ganho para organizar o Lollapalooza Brasil. Pelo contrário, gasto muito com ele e, na edição deste ano, pude ver, além do Jack White, outros quatro ou cinco shows que valeram meu dinheiro (Kasabian, Interpol, Alt-J, Boogarins e, talvez, Young the Giant). O certo é que o Pharrell Williams, hoje, não é headliner. Se a proposta é faturar, ele poderia ser, mas isso é pouco para um festival que surgiu como diferente e, a cada nova edição no Brasil, se aproxima de se tornar mais um.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Lollapalooza Brasil ganha em espaço e diversidade, mas perde em identidade

O Lollapalooza é um festival de rock alternativo, certo? Se o parâmetro é a última edição brasileira, a resposta é errado. Afinal, Muse, Lorde, Imagine Dragons, Ellie Goulding e Jake Bugg são atrações que caberiam melhor no Rock in Rio. Atenção: não defendo a exclusividade ao que possa ser rotulado de indie nem a prioridade a músicos consagrados.
Ao contrário, sou da opinião de que um bom festival de rock alternativo, ao menos o Lollapalooza começou com essa natureza, precisa reunir atrações de estilos e gerações diversas, para promover o novo e valorizar o consagrado, com artistas que tenham as características em comum de não se prender ao que tem apelo comercial e de preservar sua identidade musical. O sucesso comercial é sempre bem-vindo, desde que ele não seja perseguido às custas da qualidade artística.
Na última edição brasileira do Lollapalooza, o que predominou entre os músicos de carreiras recentes foram as atrações de apelo pop. Essa é uma opção válida para todo festival que busca ser financeiramente sustentável, mas pode implicar em uma perda de identidade. O Lollapalooza, pelas proporções que já atingiu, não precisa recorrer a ela.
Assim, parece ser perfeitamente viável investir na valorização de artistas do cenário alternativo, sejam novatos ou já consagrados. Se a atração principal de um dia pode ser o Arcade Fire, uma banda que assume constantemente riscos nas suas opções artísticas, por que não repetir a aposta com os músicos que fazem as demais apresentações em cada palco?
Como um exercício de masoquismo, imaginem as bandas do cenário alternativo que vieram pouco ou nunca ao Brasil e poderiam ter ocupado o lugar das atrações pop do último Lollapalooza. É, sei como é dolorido pensar nisso. A apresentação do Arcade Fire foi a prova definitiva de que música refinada também pode ser feita para multidões. Então, nas apresentações iniciais de cada palco, com públicos menores, haveria até mais espaço para esse tipo de artista.
Rotular minha argumentação de patrulha indie é negar as diferenças entre as naturezas de festivais como o Lollapalloza e o Rock in Rio e querer colocar tudo no mesmo balaio. Se a nova proposta do pessoal que trabalha para o Perry Farrell é essa, a opção é legítima, repito, mas se tratará de um novo festival, que passará a ganhar menos comigo e, certamente, mais com o público em geral.
Quem chegou até aqui já percebeu que o Arcarde Fire foi bom. Pois é, foi muito bom! Bichogrilices à parte, como a parte visual e as homenagens à MPB, eles se mostram no auge de uma carreira de quatro álbuns. Não que o último, "Reflektor", seja o melhor dos quatro, mas foi outra aposta ousada, que possibilitou à banda agregar fãs exibindo criatividade e mantendo o nível de qualidade. O próprio Arcade Fire é consciente da sua trajetória, tanto é que desfilou músicas de todos os álbuns, com o cuidado de preservar um equilíbrio entre "Funeral", sua obra-prima, e o atual "Reflektor".
Vi 10 shows em dois dias de festival. Entre eles, o do gênio da guitarra Johnny Marr também merece ao menos um parágrafo. Foi um exemplo de como um músico talentoso e vinculado até o fim dos seus dias a uma banda, queira ou não, pode ter uma carreira solo com brilho próprio, é o que mostra seu álbum "The Messenger", e respeitar, ao mesmo tempo, seu passado. A escolha do repertório do show e sua execução foram primorosas, tanto pelas músicas próprias quanto pelas do Smiths, contando com a participação especialíssima de Andy Rourke, que foi baixista da banda, em uma delas. E ainda houve espaço para um cover do Clash!
Dos outros shows que vi, Vampire Weekend, Cage The Elephant, Julian Casablancas, Capital Cities, Pixies e Phoenix valeram o esforço da circulação incessante entre os palcos, com mais distância e obstáculos no trajeto do que no ano passado. Não posso dizer o mesmo dos demais.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Um festival de rock no verão europeu: algumas impressões

Já nem lembrava que tenho um blog. E só lembrei porque fiquei como uma vontade louca de escrever algo sobre minha primeira experiência num festival de rock na Europa. Fui aos quatro dias do FIB, o maior festival da Espanha, em Benicàssim, na costa leste do país.
Cara, é demais! E olha que há festivais maiores no verão europeu, como Glastonbury e Reading. Mas que fique claro que festival de rock, principalmente os que têm vários dias seguidos, não é coisa para fracos. Só pode gostar quem: 1) curte muito rock; e 2) está disposto a encarar todo tipo de roubada em nome do bom e velho rock and roll. Se você não se encaixa nesse perfil, nem vá, ou escolha um dia e fique pouco, porque não vai curtir.
A edição de 2012 do FIB, pelo que fiquei sabendo sobre anos anteriores, foi mais pop do que costuma ser. Nada comparado a um Rock in Rio da vida, mas rolaram atrações descartáveis, como Jessie J e Ed Sheeran, fenômenos pop do momento em terras britânicas. Ao mesmo tempo, as atrações principais de três dias foram artistas, gostem deles ou não, de grandeza e qualidade inquestionáveis: Bob Dylan, The Stone Roses e New Order.
Outra novidade foi o predomínio absoluto dos britânicos, sobretudo ingleses, entre o público. O FIB já é atraente para eles porque rola na Espanha e numa cidade em que se pode ficar o dia todo na praia antes de ver os shows, com uma necessidade mínima de se deslocar. E para aumentar a proporção de britânicos, a crise brutal na Espanha fez com que muitos espanhóis tenham deixado de ir ao festival.
Com todas as introduções (sem duplo sentido) já feitas, vamos passar às impressões. A primeira e mais marcante para mim é que os ingleses são muuuuito roqueiros! Está no sangue dos caras. Isso só me faz admirá-los mais, como um grande fã que já sou da música feita por lá.
Eles também são muuuuito loucos! Estar cercado por hordas de ingleses embriagados durante quatro dias é divertido, mas fica tenso em vários momentos, porque você nunca sabe o que pode acontecer. Ao mesmo tempo em que rodas de pogo se abrem a toda hora (ei, isso é divertido para mim) e você pode dividi-las com eles numa boa, pode encostar um brucutu nas suas costas e começar a berrar e cuspir, não necessariamente nessa ordem, as letras das músicas que você quer tentar escutar.
E ainda no capítulo como é a vida com os ingleses num festival de rock, achei que eles são um pouco assexuados. Para nós, brasileiros, a ideia de festa envolve, preferencialmente, beijar e transar, sem nenhum estereótipo tirado do axé ou do sertanejo universitário. Nós sabemos que é assim. Para os ingleses, a ideia de festa envolve, preferencialmente, encher a cara e escutar rock. Se rolar algo mais, beleza, mas não é isso que eles buscam.
No quesito moda, notei duas tendências entre os ingleses no FIB. Para os homens, o sujo chique: quanto mais sujos o tênis e a roupa, mais legal.  E não é assim lá pelo fim da noite. Os caras já chegam sujos. Para as mulheres, o Bob Esponja calça quadrada. Se você ver um short jeans quadrado e na altura do umbigo, pode estar certo que tem uma inglesa dentro.
Musicalmente falando, o FIB foi rico. Em três palcos, vi artistas de estilos variados que conhecia pouco ou nada e que me impressionaram, como Lisa Hannigan, Disappears, The Maccabees, Delorentos, Ham Sandwich, Spector e The Antlers. Das atrações mais conhecidas, também foram vários shows de primeira, como os que fizeram The Horrors, At the Drive-In, Bob Dylan, Bombay Bicycle Club, The Stone Roses, Buzzcocks, The Vaccines e New Order. O que senti falta foi de um pouco mais de melancolia. Ao menos, havia The Antlers para representar bem o estilo.
Em termos de logística, tudo funciona bem. São oferecidas duas áreas de camping, uma gratuita, para todo mundo que tem ingresso, e outra paga, com uma estrutura bastante razoável. Dentro do espaço para os shows, há uma infinidade de opções de comida, todas pagas nas próprias barracas. Ninguém é obrigado, portanto, a comer sanduíche de microondas pagando o olho da cara. A cerveja é Heineken! E para quem prefere destilados, há barracas só de drinks, como diria meu amigo Pão com Molho, que viram baladas a parte, de tanta gente que se acumula para beber.
A nota ruim é sobre a divulgação da programação. Com tantos palcos e atrações, é impossível não se perder. Apesar disso, o FIB não oferece guias gratuitamente. Ao contrário, cobra caro por eles. Quem quiser um precisa pagar 7 euros. E ficar esperto para não perder e ter que comprar outro...

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Temporada de listas

Fim de ano é tempo de presentes, peru (prefiro chester), champagne e, claro, listas de melhores. Vou começar com a dos melhores shows que vi em 2010, um ano recheado de atrações no Brasil para quem gosta de rock. Se alguém estranhar a ausência de shows do SWU, a explicação é que estava longe na época e não pude ir. Vamos à lista:
1 - Stereophonics, Citibank Hall, São Paulo (sim, foi o melhor que vi em 2010! Não é difícil de justificar: foi uma coleção de hits de uma grande banda que nunca tinha estado por aqui);
2 - Dinosaur Jr., Comitê, São Paulo (junte uma banda histórica da cena alternativa, muito barulho e um lugar pequeno. Como não poderia ser um grande show?)
3 -  Pavement, Planeta Terra, São Paulo (o melhor do Planeta Terra. Não importa que os caras são desencanados demais. Uma banda com o estilo de som que o Pavemente faz é assim. E que ótimo!);
4 - Los Campesinos!, Wrongbar, Toronto (valeu como prêmio de consolação. Estes moleques galeses deram o sangue no palco para me fazer esquecer que perderia o SWU);
5 - Paul McCartney, Morumbi, São Paulo (sei que muitos vão me achar louco, mas um honroso quinto lugar está de bom tamanho. Os Beattles são a maior banda da história, reconheço, mas não para o meu gosto).
Até a próxima lista...

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

As origens sociais da raiva contra o Corinthians

Tenho muito orgulho de ser corintiano. As inúmeras demonstrações de raiva contra o Corinthians que tenho visto nos últimos dias, mais ou menos explícitas, só reafirmam a grandeza deste clube. Afinal, é preciso ser muito grande para estimular tantas reações apaixonadas, seja para o bem ou para o mal. O que não entendo é a intensidade da raiva de muitos. A explicação não é só a rivalidade ou a grandeza corintiana. A raiva contra o Corinthians une torcidas rivais pelo Brasil afora. Desconfio que isso tem a ver com a origem social de grande parte dos corintianos. Assim como defender a militarização de favelas para combater o crime, é bem aceito socialmente destilar raiva e preconceito contra os corintianos. E não me venham dizer que não tenho bom humor. O tom de brincadeira termina onde começa o de preconceito. No campo esportivo, a temporada do Corinthians terminou de forma frustrante, por causa do terceiro lugar e da necessidade de disputar a Pré-Libertadores. O que não significa que não tenha sido uma boa temporada. O corintiano precisa se acostumar com a regularidade, nem oito nem oitenta. É só com uma seqüência de temporadas como a de 2010 que o Corinthians vai, cedo ou tarde, ser campeão da Libertadores. E tenho dito!

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

WikiLeaks: mais uma lição norte-americana ao mundo!

Acabo de ler na coluna do Clóvis Rossi na Folha.com (http://www1.folha.uol.com.br/colunas/clovisrossi/841305-os-papeis-do-site-wikileaks.shtml) a reprodução de um artigo do Moisés Naím sobre os últimos documentos vazados pelo WikiLeaks. O autor é um acadêmico venezuelano que está há muitos anos nos Estados Unidos e já pensa com mentalidade de norte-americano, como mostra o que escreveu. É incrível como os norte-americanos tendem a analisar tudo de forma egoísta e com uma ótica que só leva em conta as visões de mundo próprias ao país. Vejamos o seguinte trecho, em que Naím reitera a posição de um outro analista, este originalmente norte-americano, citando-a entre aspas: "El villano que claramente emerge de los cables no es Washington; son los líderes de otros países, que eluden tomar decisiones difíciles y se refugian en la hipocresía, la cobardía y las mentiras que les dicen a sus pueblos". Quer dizer que os Estados Unidos estão isentos de culpa pelos problemas mundiais? O erro é dos outros, que não fazem o que os Estados Unidos querem? Ah, por favor, né! E, para piorar, o Rossi não contestou esse trecho. É claro que diplomatas de todos os países tentam extrair o máximo de informações nos locais onde servem para enviar a seus superiores. O problema no caso dos documentos norte-americanos vazados são as posições que aparecem em alguns deles. Os Estados Unidos fazem seu papel ao tentar impor sua visão aos outros países, mas não venham com o discurso, como Naím e outros fazem para que a diplomacia norte-americana saia bem do episódio dos vazamentos, de que isso é o melhor para todos.

De quantos caracteres você precisa?

É óbvio que tudo que se escreve em muitas linhas pode ser escrito em poucas. Mas é curioso que numa era de abundância a preocupação seja economizar as palavras. Há tantas coisas mais importantes para economizar. Por que não economizar cada detalhe banal de nossas vidas contado nas redes sociais e juntar detalhes mais interessantes num único post? Por que não economizar reflexões desconexas ou frases tiradas da literatura de auto-ajuda e tentar escrever algo mais articulado? Por que não deixar de contar os caracteres e perder a conta das ideias? Ah, já me cansei disso...